Um incidente envolvendo um caça russo e um drone militar dos Estados Unidos no Mar Negro elevou a tensão entre os dois países nesta terça-feira (14). Segundo autoridades americanas, o caça Su-27 da Rússia atingiu a hélice de um drone de vigilância MQ-9 Reaper, fazendo com que ele caísse na água. Este foi o primeiro caso do tipo desde a invasão da Ucrânia pelos russos em 2022.
O Departamento de Defesa dos EUA acusou a Rússia de realizar uma interceptação “imprudente” e “insegura” do drone espião norte-americano, que estava operando em espaço aéreo internacional. O general James Hecker, comandante da Força Aérea dos EUA na região, disse que os jatos russos despejaram combustível no drone e fizeram manobras perigosas na frente dele antes da colisão.
“Na verdade, esse ato inseguro e pouco profissional dos russos quase causou a queda de ambas as aeronaves”, afirmou Hecker em comunicado. Ele disse que o drone não estava armado e realizava operações de rotina.
O Ministério da Defesa da Rússia negou as acusações americanas e disse que o drone foi detectado perto da fronteira russa e que os caças decolaram para verificar a situação. A agência de notícias russa TASS afirmou que o drone norte-americano caiu na água após manobras descontroladas e que não houve uso de armas ou contato com o equipamento dos EUA.
O incidente ocorreu em uma região sensível do ponto de vista geopolítico, onde ficam as costas sul da Rússia e da Ucrânia, além da disputada península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014. Os EUA apoiam a Ucrânia contra a agressão russa e realizam sobrevoos frequentes no Mar Negro.
O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, tentou reduzir a tensão sobre a intencionalidade dos russos, mas manteve a crítica à conduta imprópria dos pilotos. Ele disse que os EUA estão em contato com os russos para esclarecer o episódio.
O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que o embaixador da Rússia em Washington foi convocado para uma reunião ainda nesta terça-feira para falar sobre o acidente. Price disse que os EUA estão preocupados com as implicações do incidente para a estabilidade regional e global.
“Esse tipo de comportamento irresponsável aumenta o risco de escalada militar desnecessária e mina as normas internacionais”, disse Price aos jornalistas.
O incidente também gerou reações de outros países aliados dos EUA na região. A Turquia condenou “veementemente” a derrubada do drone americano e expressou sua solidariedade aos EUA. A Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), aliança militar ocidental liderada pelos EUA, pediu à Rússia que respeite as regras internacionais de segurança no ar.
Analistas afirmam que o incidente pode aumentar ainda mais as tensões entre Washington e Moscou, que já estão em níveis elevados por causa das sanções econômicas impostas pelos americanos à Rússia por causa da invasão à Ucrânia. Além disso, os dois países têm divergências sobre temas como direitos humanos, ciberataques, controle de armas nucleares e influência no Oriente Médio e na Ásia. Alguns especialistas temem que o incidente possa levar a uma escalada militar entre as duas potências nucleares, que já estão envolvidas em uma nova corrida armamentista.
Outros, porém, acreditam que o incidente foi um caso isolado e que não terá maiores consequências diplomáticas. Eles argumentam que os EUA e a Rússia têm canais de comunicação para evitar mal-entendidos e que ambos os países têm interesse em manter a estabilidade estratégica.
O caso também levanta questões sobre o uso de drones militares em áreas de conflito ou tensão. Os drones são cada vez mais usados pelas forças armadas de vários países para realizar missões de vigilância, reconhecimento ou ataque sem colocar em risco a vida dos pilotos. No entanto, eles também podem ser alvos de interceptação ou abate por parte dos adversários.
Os EUA são os maiores usuários de drones militares no mundo e já os empregaram em operações no Afeganistão, Iraque, Síria, Somália e outros países. A Rússia também tem desenvolvido seus próprios drones militares e os usou na guerra da Síria.
O incidente desta terça-feira foi o primeiro envolvendo um drone americano derrubado por um caça russo. Em 2019, um drone americano foi abatido por um míssil iraniano no Golfo Pérsico. Em 2001, um avião espião americano colidiu com um caça chinês no Mar da China Meridional e teve que pousar em solo chinês.